Marvão – Miradouro da Humanidade

A 12 de Fevereiro de 2000, esse sítio “das arábias”  candidatou-se a património mundial da UNESCO, esperando-se que  esse título seja confirmado até Julho deste ano. Os motivos para a sua atribuição são múltiplas. Além da beleza paisagística e da herança histórica e arquitectónica é sobretudo a riqueza ambiental um dos trunfos da candidatura de Marvão. Encontra-se na extrema margem  nordeste do Parque Natural da Serra de São Mamede, que foi criado em 1989 e onde prolifera uma grande variedade de espécies raras e ameaçadas em outras regiões, entre elas o texugo, a lontra, várias raças de morcegos e de anfíbios como o sapo parteiro, a rã ibérica e o lagarto de água que vivem nas margens do rio Sever. Antigamente,havia até águias que nidificavam no alto do castelo que, por isso, foi durante muito tempo conhecido como “Ninho de Águias”.

Acrescenta-se a tudo isto o espírito de asseio, que reina entre os quase 200 habitantes da pequena vila amuralhada. Tal como em muitas outras aldeias e vilas alentejanas, as mulheres fartam-se de varrer até os próprios passeios e soleiras das portas. Nenhum lixo fica nas ruelas e nenhuns cartazes ou grafiti desfiguram as paredes das casas antigas.

Mas Marvão é também um lugar cheio de história e histórias. Conta-se, p.ex., a lenda da pequena Amaia, uma criança abandonada e desesperada, a quem uma dama de meia idade teria encontrada e criada. Mais tarde, Amaia casou-se com o filho da dama, Marcelo. Foi no tempo da invasão dos romanos e quase toda a população da região foi morta ou capturada pelos invasores. Mas o jovem casal conseguiu fugir para a montanha e lá erigiu, pedra a pedra, a casa onde viveu os restos dos seus dias. Conta a história que os seus descendentes, da pequena casa, construíram um castelo – o castelo de Marvão.¹ O próprio nome do castelo deriva de um cavaleiro do Islão, Ibn Maruán que, nos tempos da ocupação árabe (a partir de 711), se recolhia frequentemente no alto da montanha. Mais tarde, no tempo da Inquisição, Marvão foi, tal como Castelo de Vide, um lugar de refúgio pelos judeus espanhóis, os chamados sefarditas.

Finalmente, deve-se ter em conta a riqueza artesanal e gastronómica de Marvão. A melhor altura para convencer-se desses valores é a Festa da Castanha que decorre no Inverno e onde há concurso de gastronomia, tudo à base de castanha, até as doçarias. Mas quem preferir visitar Marvão numa época mais quente, deve fazê-lo no início de Julho, quando tem lugar a Feira de Gastronomia de Marvão. Todos os anos, milhares de visitantes aparecem para saborear os pratos típicos do Alentejo e para deixar-se encantar, ao mesmo tempo, pelo ambiente duma vila histórica com jovens vestidos a rigor, grupos medievais a tocar, cuspidores de fogo e vários animadores.