Com esta pergunta algo surpreendente não
queremos fazer entender que o algarvio seja uma língua própria tal como o
galego (falado no Minho e em Trás-os-Montes perto da “raia” espanhola) ou o
mirandês (que se fala na região de Miranda do Douro). Mas distingue-se
nitidamente do português beirão ou minhoto. É, antes de mais nada, uma questão
de pronúncia. Entender um algarvio que fala “às bandeiras desfraldadas” é
um osso duro de roer, não só para um estrangeiro com bons conhecimentos de
português, mas também para portugueses vindos de outras regiões do País.
Os
algarvios gostam de falar muito e rapidamente. Por isso “algarvio” é também
uma designação para uma pessoa tagarela ou palradora. Quando se pede,
para melhor entendimento, a um algarvio para falar mais devagarinho, ele,
com certeza, falará mais alto, mas sem minimamemte abrandar o seu fluxo
palavroso. Além disso, tem tendência para “comer as sílabas” (pior ainda
do que os lisboetas!). E como se isso não bastasse, dá outros valores fonéticos
às vogais, p.e. o “a” soa mais como um “o” e o “u” mais como “ü”
(tal como nos Açores), sobretudo no Barlavento (Vila do Bispo e arredores)
Enquanto o
sotaque algarvio põe à prova dura a compreensão auditiva de muitas pessoas, a
própria estrutura linguística não apresenta grandes empecilhos. É só de
assinalar a preferência do gerúndio ao infinitivo com os verbos “estar”,
“ficar”, “ir” e “vir” (“estou fazendo” em vez de “estou a
fazer”). Mas este fenómeno é também conhecido da Madeira e do Brasil. De lá,
aliás, vai-se infiltrando, através das telenovelas, cada vez mais também no
resto do País (este tema já foi tratado no No.XI desta série, quando nos
debruçámos sobre o português brasileiro; ver “Correio luso-hanseático” Nº
10, pp.19-22).
Onde se
pode falar com mais justiça dum dialecto algarvio é no campo do vocabulário.
Existe até um “dicionário do falar algarvio”. Foi publicado em 1988 pela
“Edição Região de Turismo do Algarve” e é da autoria Eduardo Brazão Gonçalves.
Muitas das palavras e expressões aí compiladas não são usadas exclusivamente
no Algarve, mas também em outras regiões, sobretudo no vizinho Alentejo. Nos
grandes dicionários da língua portuguesa, estas expressões são classificadas
como “provincianismos”, termo algo polémico e que nem sempre corresponde à
realidade histórica. A título de exemplo, Eduardo Brazão Gonçalves cita a
palavra “cangrejo”. Esta forma é mais “erudita” do que o
“caranguejo”do português corrente ou,
pior ainda, do lisboeta “carangajo”,
pois vem do latim “cancriculu” através do espanhol “cangrejo”e foi
ainda usada por Camões.
Falar em
dialecto ou provincianismo é, afinal de contas, uma questão de perspectiva,
como mostra a anedota contado pelo autor no seu livro na pág. 64: “...quando
em Olhão perguntaram muito lisboetamente a um pescador o preço dos carangájos,
este desatou a rir dizendo para o vizinho: – Móce (=pá)! Mane Manél!... O
gajo nem sabe dizer cangrejo, mã (=homem)!”
Como o
livro de Eduardo Brazão Gonçalves já não está acessível, citaremos, em
seguida, algumas expressões para guiar os nossos leitores que tencionam passar
férias no Algarve ou aí são residentes. Mas não se queixem se os seus novos
conhecimentos não derem resultado: o uso de certas expressões varia de região
para região, de vila ou cidade para vila. Uma palavra corrente em Lagos talvez
já não se entenda em Albufeira ou Faro.
abalar –
partir – abreisen
abéspra – vespa –
Wespe
açoteia/soteia– terraço
sobre a casa – Dachterrasse
agença – sustento, alimento – (Lebens)unterhalt, Nahrung
água de
pedra – granizo –
Hagel
ãibra –
fome – Hunger
albricoque/almecoque – alperce – Aprikose
alclara –
lacrau – Skorpion
arjamolho –
gaspacho – leichte Gemüsesuppe (kalt)
arranjar a
bonita – fazer a boa
– Streit anzetteln
arrieiro –
vendedor de peixe de porta em porta – fliegender Fischhändler
bafum –
mau cheiro – Gestank
baja/vagem –
feijão verde – grüne Bohne
barba –
queixo – Kinn
barlavento –
parte ocidental do Algarve – Westalgarve
barrocal – algarv. Zone zwischen Küste und
Gebirge
bàtizo –
baptismo – Taufe
bergão –
berbigão – Herzmuschel
borra –
coisa (sem valor), porcaria – Ding, Dreck
botar – pôr, lançar – wegtun, hinstellen
briba/bibra – víbora – Schlange, böse Frau
buer – beber – trinken
cação (em~) – nu, despido – nackt, ausgezogen
caga-lumes/luzincu
– pirilampo – Glühwürmchen
calma –
(hora de) calor – (Mittags)Hitze
ceterna –
cisterna – Brunnen
cherume –
suco – Saft
cloques/galochas
– socos, tamancos –Holzpantoffeln
compadre –
amigo – Freund, Kumpel
condelipa1
– conquilha – (kl.
Muschelart)
deslaiado –
desanimado – mutlos
desna –
desde – seit
dispor – plantar – pflanzen (Gemüse)
empar –
direcção – Richtung
encalitro –
eucalipto – Eukaliptus
engeroca/engonha
– coisa mal feita –
“Schrott”
escaparate
– armário para loiça – Geschirrschrank
estambo/estomo
– estômago – Magen
facho
– má figura – schlechtes Ausehen (Kleidung)
família/pessoal
– gente, pessoas –
Leute, Menschen
folga – sesta – Siesta, Mittagsschläfchen
fugir – correr – rennen, laufen
gazil
– elegante, airoso – schlank, hübsch
girandoila –
gravata – Krawatte
grave –
elegante, fino – fein, elegant
grepe –
roubo – Raub
grisa –
fome – Hunger
inté –
até – bis
jogar –
lançar, atirar, deitar fora – (weg)werfen, schleudern
lavajar –
sujar, emporcalhar – beschmutzen, verdrecken
lintejo –
Alentejo
losna –
osga – Gecko
magana –
finória, velhaca, meretriz – durchtriebenes Weibstück, Hure
mal embarda/o
– (muito) doente –
(sehr) krank
maltês –
desordeiro, mal comportado – liederlich, ohne Manieren
mano –
irmão, amigo – Bruder, Freund
manteiga –
banha, gordura de porco – (Schweine)Schmalz
manteiga de
vaca (de loja) –
manteiga – Butter
mo!/móce!
(< moço = rapaz/menino) –
pá! –
eh!, Mann!
mod’quém?/por
monde quê? –
porquê? – warum?
nãiques!/nanques!
– pois não! –
prima! klar!
nhora?
(<senhora) – faz favor? como? – wie bitte?
ontepassado
– o ano passado
– letztes Jahr
porradão –
grande quantidade; pancada – große Menge; Prügel
portal –
degrau – Treppenstufe
prozar – medrar – gut gedeihen
rijo (de ~)
– em voz alta, com força
– laut, kräftig
(boa) roupa
– boa qualidade (pessoas,
coisas) – von guter Qualität (Menschen, Dinge)
saibo –
sabor – Geschmack
sastefeito –
satisfeito – satt, zufrieden
sotavento –
parte oriental do Algarve – Ostalgarve
talefe – marco geodésico – geografischer Vermessungspunkt
trela (andar à ~) – espreitar – Ausschau halten
tulha –
depósito para guardar fios ou amêndoas – Feigen-, Mandeldepot
unde(s)pôs
– há pouco tempo –
vor kurzem
uso (à ~) –
à balda, sem cuidado – aufs geratewohl
vagem –
ver/siehe baja
verru(s)ga –
ruga – Hautfalte
vá-de-viró!
– vira o barco! –
Boot wenden!
zorra –
raposa – Fuchs
Mit dieser etwas überraschenden Frage wollen wir keineswegs unterstellen, dass
das „Algarvio“ eine eigene Sprache ist ähnlich wie das Galizische (das man
im Minho und Trás-os-Montes in der Nähe der spanischen Grenze spricht) oder
das Mirandês (das in der Gegend von Miranda do Douro gesprochen wird). Aber es
unterscheidet sich deutlich vom Portugiesischen der Beiras oder des Minho. Es
ist vor allem eine Frage der Aussprache. Einen Bewohner des Algarve zu
verstehen, der so richtig loslegt, ist ein harter Brocken, nicht nur für einen
Ausländer mit guten Portugiesischkenntnissen, sondern selbst für Portugiesen,
die aus anderen Regionen kommen.
Die algarvios, die Bewohner des Algarve, reden
viel und schnell. Deswegen ist „algarvio“ auch eine
Bezeichnung für eine geschwätzige Person. Wenn man einen algarvio bittet,
etwas langsamer zu sprechen, damit man ihn besser versteht, wird er sicherlich
lauter sprechen, aber ohne seinen Redeschwall im geringsten abzubremsen. Außerdem
hat er die Tendenz, Silben zu verschlucken (schlimmer noch als die
Lissabonner!). Und als wenn das noch genug wäre, gibt er den Vokalen einen
anderen Klangwert; z.B. klingt das „a“ wie ein „o“ und das „u“ wie
ein „ü“ (ähnlich wie auf den Azoren), vor allem im Barlavento, dem
westlichen Ende des Algarve (Vila do Bispo und Umgebung).
Während der „Algarvio“-Akzent das Hörverstehen
vieler Leute auf eine harte Probe stellt, weist die sprachliche Struktur selbst
keine großen Hindernisse auf. Da wäre nur der Vorzug des Gerundiums gegenüber
dem Infinitiv nach Verben wie estar, ficar, ir und vir
(estou fazendo statt estou a fazer). Doch dieses Phänomen finden
wir auch auf Madeira und in Brasilien. Von dort dringt es durch die telenovelas,
die brasilianischen soaps, allmählich auch in das restliche Portugal vor
(dieses Thema wurde bereits in der 11. Folge dieser Reihe behandelt, als es um
das brasilianische Portugiesisch ging; siehe Portugal-Post 10, S.19-22).
Am ehesten lässt sich beim
Wortschatz von einem Dialekt des Algarve sprechen. Es gibt sogar ein „Wörterbuch
der Sprache des Algarve“. Es wurde 1988 vom Verlag der Tourismusregion Algarve
veröffentlicht und stammt von Eduardo Brazão Gonçalves. Viele der hier
zusammengetragenen Begriffe und Wendungen werden nicht ausschließlich im
Algarve gebraucht, sondern auch in anderen Regionen, vor allem im benachbarten
Alentejo. In den großen portugiesischen Nachschlagewerken werden diese als
„Provinzialismen“ geführt, wein etwas polemischer Ausdruck, der nicht immer
der (sprach)geschichtlichen Wirklichkeit entspricht. Als Beispiel zitiert
Eduardo Brazão Gonçalves das Wort cangrejo (=Taschenkrebs). Diese Form
ist „gelehrter“ als das caranguejo des offiziellen Portugiesischen
oder, noch schlimmer, des Lissabonner carangajo, denn es kommt vom
Lateinischen cancriculu über das Spanische cangrejo und wurde so
noch von Camões gebraucht.
Von „Dialekt“ oder „Provinzialismus“ zu
sprechen ist letztlich eine Frage der Perspektive, wie die Anekdote zeigt, die
der Autor auf S.64 seine Nachschlagewerks erzählt: „... als jemand einen
Fischer in Olhão ganz auf Lissabonner Art nach dem Preis con carangájos
fragte, brach dieser in schallendes Gelächter aus und sagte zu seinem Nachbarn:
– Eh, Mann! Freund Manuel! ... Der Typ kann nicht mal cangrejo sagen,
Mann!“
Da das Buch von Eduardo Brazão Gonçalves nicht mehr
erhältlich ist, haben wir ein paar Ausdrücke für unsere Leser
zusammengestellt, die beabsichtigen Ferien im Algarve zu verbringen, bzw. dort
ansässig sind. Aber bitte keine Beschwerden, wenn Sie Ihre neuen Kenntnisse
nicht anbringen können: der Gebrauch bestimmter Ausdrücke wechselt von Region
zu Region und von Ort zu Ort. Ein Wort, das in Lagos geläufig ist, versteht man
vielleicht schon in Albufeira oder Faro nicht mehr.