Dedicatória

Não é o escrever para uma revista publicada na Alemanha e que fala do meu país que me impede de dizer que gosto que gostem dele, tal como gosto do país onde actualmente me encontro. É um gostar antigo, feito de leituras, infelizmente traduzidas e de recordações construídas à base de música – sobretudo Brahms.

Ouvir a minha língua falada facilmente por amigos alemães, dá-me o mesmo prazer que ouvir alemão falado pelos meus compatriotas. E isto reforça, em minha opinião, a ideia de que duas culturas distintas e dois modos de ver diferentes, podem afinal encontrar-se, quando o que as une é um sentimento sólido de amizade e um respeito mútuo pelos lugares que ocupam na História e na construção da Europa.

Gosto de Hamburgo, de manhã cedo, da superfície do lago em frente à minha casa. Gosto do café tomado diariamente em Gänsemarkt e da senhora que mo serve e que, sabendo-me português, achou graça em aprender a dizer “bom dia”, com um sorriso que me alegra. Gosto do cheiro a pão ao fim da tarde e da pressa dos compradores. Gosto da florista que trabalha por baixo do Consulado e, porque compro repetidamente, me ofereceu um ramo de rosas. Gosto do azul dos olhos das pessoas que passam. Gosto verdadeiramente dos amigos que começo a ter, dos seus gestos, das suas atenções.

Gosto de ler o que está bem escrito, do que é bem imaginado, do que é pontuado e pontual. Gosto do Correio Luso-Hanseático, do conhecimento que o Prof. Peter Koj tem do meu país (não é só conhecimento, é amizade), das referências lúcidas da Regina Correia, das “Rondas” do Luís Carvalho.

E é, com o maior agrado, que aplaudo as cinco velas do aniversário da Associação Luso-Hanseática, dando-lhe os mais sinceros parabéns.

Dr. Fernando Manuel Gouveia de Araújo
Cônsul-Geral da República de Portugal em Hamburgo